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Wednesday, 30 June 2010

Outras rodas


Alguém comentou comigo que tinha passado já um mês desde o meu ultimo post. É verdade, e eu nem tinha pensado nisso. A minha mente e as minhas energias têm estado dispersas por outras realidades. Não deixei de andar na Indiana, embora seja um facto inquestionável que tenho feito poucos km. É provável que de futuro tenha menos oportunidade de vir aqui fazer actualizações. De qualquer forma, este é um blogue de um "iniciado" em matéria de scooterismo. Acho que já não encaixo muito bem nessa definição.

Factos de interesse que tenha para relatar também são poucos, o Lés a Lés passou, o Vespa World Days está à porta, não estive num nem vou estar no outro. A Indiana melhorou ligeiramente o consumo, e não tenho problemas a reportar. O tempo está excelente, está finalmente calor. Se puderem, façam-se à estrada!

Thursday, 15 April 2010

Do preço dos combustiveis e outras realidades


Segundo os meus registos, o preço da gasolina aumentou cerca de 13% no tempo de vida da Indiana, cerca de 6 meses. Como a inflação no mesmo período deve ter sido de cerca de 1% , e não tendo havido nem escassez de oferta nem aumento da procura de combustíveis, os actuais preços praticados são para mim um perfeito mistério.

Para o Português médio isto é uma grande injustiça.

Para mim não.

O Português médio vai para todo o lado de automóvel e como tal considera direitos básicos, senão mesmo divinos, o acesso a combustíveis baratos, impostos de circulação reduzidos e lugares de estacionamentos gratuitos. (Na falta destes, acha-se no direito de estacionar em qualquer lado). É extraordinário o consenso que existe na sociedade portuguesa sobre estes assuntos, um consenso que transformou as nossas cidades em auto-estradas, as nossas praças e jardins em parques de estacionamento e os nossos idosos, crianças e deficientes em reféns nas suas próprias casas, cercados pelos omnipresentes pópós que tudo ocupam. Nem os turistas conseguem tirar uma foto decente aos nossos monumentos, cercados que estão sempre por automóveis (mal) estacionados.

O Português médio ri-se quando ouve dizer que uma boa percentagem das deslocações de um Dinamarquês ou Holandês são feitas de bicicleta, que o acesso ao centro de Londres se paga, que no Japão o estacionamento gratuito simplesmente não existe e que só pode ter carro quem prove ter também garagem. Fica chocado se lhe dizem que nos Estados Unidos conduzir embriagado dá prisão efectiva, que em Singapura um acidente com um ciclista ou um peão é sempre culpa do automobilista, independentemente das circunstâncias.

O Português médio sai atrasado de casa e depois tenta ganhar tempo fazendo loucuras na estrada, vai almoçar a quilómetros do trabalho (porque merece) e no regresso faz mais um slalom a velocidades vertiginosas, porque está atrasado para a reunião. O Português médio, por mais que os preços subam, nunca deixa o carro em casa nem anda mais devagar para poupar combustível. Quando alguém diz que veio devagar na Auto Estrada, quer dizer que veio a 140 km/h! O Português médio atropela 17 pessoas por dia, mas raramente assume a sua culpa. O Português médio parece uma pessoa normal, um ser inteligente, até que o vês a conduzir.

Não tenho já muita paciência para o Português médio. A maior parte das vezes as pessoas só mudam se a tal forem obrigadas. Como o estado parece que se demitiu do seu papel de fiscalizador, a esperança recai agora sobre os aumentos dos combustíveis. Talvez eles tirem finalmente gente da estrada e ajudem a modificar os nossos insustentáveis paradigmas de mobilidade. Não se iludam, as mudanças vão acontecer, mais tarde ou mais cedo. A bem ou a mal.

Sunday, 21 March 2010

Quando ficar verde, corra!


Assim sub-intitula o Público uma peça sobre semáforos. Se ainda não era notório para toda a gente, as autarquias portuguesas tem vindo, ao longo dos anos, a encurtar o tempo de passagem para peões nas passadeiras com semáforo. A coisa chega ao ponto de em alguns sítios só um atleta olímpico, em pico de forma, conseguir atravessar a estrada antes do semáforo dos peões regressar ao vermelho.

Se fica difícil para uma adulto saudável atravessar a estrada em condições de segurança, que dizer de crianças, idosos ou pessoas com dificuldade motoras. Podemos juntar a isto o facto de muitas passadeiras terem simplesmente sido abolidas e de alguns semáforos levarem por vezes eternidades (cerca de quinze minutos na Av. da Liberdade, em Lisboa!) a deterem o tráfego dos pópós, para permitirem que uma pessoa atravesse a estrada. Depois há a permissividade das autoridades perante o estacionamento selvagem, em cima de passeios, bloqueando a passagem, ocupando praças, jardins, pracetas, caminhos. E a abolição pura e simples de passeios para alargar as faixas de rodagem, a criação de pontes pedonais que obrigam as pessoas a desvios de centenas de metros, para não interromper o sagrado fluxo do transito automóvel e todo um longo e penoso et cetera, deixa claro que, não só se continua a incentivar as pessoas a levarem o seu carro para todo o lado, como se reprime fortemente quem quer chegar ao seu destino a pé. Ou de outra forma qualquer.

Está mentalidade, esta paixão avassaladora (e cega) dos portugueses pelo automóvel, está tão enraizada que as poucas vozes de inteligência que sobrevivem num mundo árido e sem lei não se conseguem fazer ouvir. Em vez delas, os poderosos lobbys do sector asseguram que nenhum município se atreva a modificar este paradigma, que tanta qualidade de vida já fez perder. Há quem veja nisto tudo um inevitabilidade a que gostam de chamar "progresso". Certamente essas pessoas nunca sairam de Portugal...

Monday, 1 February 2010

Uma questão de peso


Não sei se alguém já fez esta reflexão. Ao contrario do que possa pensar o típico enlatadus vulgaris, a scooter é o verdadeiro veículo de comodidade total. De tal maneira que permite sempre estacionar à porta de casa, e do destino, qualquer que ele seja. Sempre. De todas as vezes. Mesmo.

Esta vantagem, uma entre muitas, traz consigo algumas consequências imprevistas. Eu tenho notado um certo aumento da massa corporal nos últimos tempos. Divido as culpas entre um sedentarismo crescente (a combater com todas as forças!) e o uso continuado dessa máquina do prazer que é a scooter.

Talvez pensem que estou a ser injusto, mas imaginem todos os troços que uma pessoa deixa de fazer a pé quando se desloca de scooter. Começa logo de manhã: eu saio de casa pela garagem e já estou em cima da Indiana. Chego ao destino e paro tipicamente a 10 metros da porta, se não for menos. O ciclo repete-se na maioria dos dias, já lá vão mais de 3 anos. As calorias não gastas começam a fazer-se sentir.

Sunday, 13 December 2009

Dia 89


Agora que já ultrapassei a quilometragem oficial indicada pela LML para a rodagem, agora que já trago comigo os documentos definitivos da scooter (demoraram cerca de 2 meses e meio), agora que já troquei de pneus, que já abasteci de óleo de marcas diferentes, que já lhe comprei accessórios, já rodei com chuva e vento, já lhe retirei os primeiros pontos de ferrugem que surgiram nos espelhos, já lhe fiz os primeiros arranhões, agora que já sou daqueles que têm sempre pelo menos uma vela e ferramentas no porta-luvas, agora que já não falho passagens de caixa, agora já sinto que a Indiana não é mais uma novidade e passou a ser "da casa".



Nestes quilómetros aprendi algumas coisas, porventura mais que o que podia ter experimentado num qualquer modelo de scooter moderna. Trocar os pneus, ainda novos, por não estar satisfeito com a performance dos que tinha, teria sido impensável na SH, não só pelo custo como pela trabalheira envolvida.

E essa troca de pneus foi mesmo muito importante. A diferença de comportamento, em piso molhado e em curva, por exemplo, é abismal. Mas o atractivo da Indiana não se resume à simplicidade mecânica e abundância de peças baratas. Poder resolver (quase) tudo em casa e a um custo baixo é bom, mas não é o principal atractivo desta LML. Pelo menos não para mim.

Comprar uma scooter desenhada há mais de trinta anos, pequena e lenta, numa era onde toda gente tem imensa pressa e a felicidade parece ser possuir o veículo mais moderno, mais veloz, mais confortável, é no mínimo coisa de um nostálgico. Do coleccionador de Vespas Old School, ao amante do design, quem compra uma LML está a enviar um certo tipo de mensagem. Optar por uma LML quando existem inúmeras outras propostas no mercado, mais potentes e capazes, é talvez um rejeitar do progresso, o de uma certa ideia de progresso. É claro que há razões históricas, em Portugal, para o sucesso das bonitas scooters indianas. Mas para mim... eu quero simplesmente abrandar, viver ao meu ritmo. Não quero passar pela vida a correr, de um sítio para outro. Na Indiana vou sempre pela estrada com paisagem, a uma velocidade que me permite absorver o que se passa a minha volta. Qual é a pressa?



A Indiana é a minha máquina do tempo e o meu sofá de psicólogo. É ao mesmo tempo burra de carga de material fotográfico e top model em passeios à beira mar, viatura utilitária para ir ao supermercado e aos correios, e sprinter audaciosa para chegar a horas ao trabalho.

Quem poderia pedir mais?

Wednesday, 29 July 2009

Live long and prosper


Este verão tem trazido algumas boas noticias para o scooterista, da capital e não só. Do estacionamento em Lisboa à aprovação da legislação das 125, motivos não parecem faltar para que, finalmente, algumas pessoas se entusiasmem a dar o salto para as duas rodas. O aumento do numero de utilizadores trará inegáveis benefícios (inclusive de segurança) para todos, ao criar mais visibilidade para esta nossa minoria, tantas vezes desprezada pelo legislador e pelos outros utentes da via.

As marcas já redobraram esforços na publicidade, sobretudo aos seus modelos de 125 centímetros cúbicos de cilindrada, esperando conseguir em Portugal o espectacular aumento de vendas que legislação similar produziu noutros países europeus. Isto numa altura em que a lei ainda nem foi promulgada. Mas não há nada de errado com isso, é importante que a mensagem passe. Temo no entanto pelo futuro destes novos condutores. Se tirando a carta uma pessoa sente que é literalmente atirada aos lobos, sem ter formação prática nenhuma os riscos serão ainda maiores.

O meu actual percurso diário casa-trabalho e trabalho-casa não soma mais de uma vintena de quilómetros, a maior parte deles por zonas de boas estradas, bem sinalizadas e com limites de velocidade entre os 70 e os 40 km/h. Mesmo assim, a quantidade de asneiras que observo diariamente é tremenda, com tendência para aumentar com o maior volume de tráfego que a zona da linha tem de suportar nesta época do ano. Excesso de velocidade, manobras perigosas, desrespeito pela sinalização vertical e luminosa, circulação em sentido proibido, o A-B-C do automobilista português está demasiado presente no meu dia-a-dia. Naturalmente, as consequências também: não houve dia desta semana em que eu não presenciasse pelo menos um acidente, ou as suas sequelas.

No meio dos vidros partidos, da chapa amolgada, dos animais atropelados e deixados à sua sorte, recordo sobretudo um acidente há dois dias, envolvendo uma mota. No caos, na azafama dos condutores a tentarem contornar mais este empecilho que os fazia perder uns segundos na sua corrida até ao semáforo seguinte, apercebi-me de que se tratava de uma pequena GN 250 ou a semelhante CM 125. Uma mota de instrução. Não muito longe do motociclo deitado por terra, estavam imobilizados um carro de uma escola de condução, e um outro veiculo. O instrutor, fora da viatura, fazia nervoso uso do telemóvel, enquanto não muito longe, a sua aluna, sentada no asfalto, ainda com o capacete colocado, era confortada por alguém.

Conseguem imaginar o desanimo desta jovem, deitada ao chão na própria aula de condução? Não faço ideia das lesões, mas ela parecia bastante queixosa. Estatisticamente a imensa maioria destas colisões tem consequências físicas. Eu sei disso. Chegará ela alguma vez a concluir as aulas? Voltará sequer a subir a um veículo de duas rodas?

Tenham cuidado aí fora.

Wednesday, 15 July 2009

Scooter FAQ

Para automobilistas! Exercendo o verdadeiro serviço público, o ScooterLog vem colmatar uma falha na nossa (de resto quase perfeita) sociedade, e esclarecer todas as dúvidas que amiúde assaltam o Sr. Automobilista. Eis finalmente, em linguagem acessível, as respostas a tudo o que sempre quis saber (Frequentemente Avançadas Questões) sobre scooters, mas tinha vergonha de perguntar:

Scooter, o que é? Uma Scooter é um veiculo de duas rodas, carroçado e de baixa cilindrada, tendo como características distintivas a colocação do conjunto motor/transmissão associados ao eixo traseiro e a superior protecção dos elementos oferecida aos seus ocupantes.

Porque é que alguém haveria de querer andar de scooter? Por masoquismo! Ou para chegar a horas ao emprego, poupar muito dinheiro, ganhar semanas de tempo por ano que se perderiam em engarrafamentos, para se divertir, para passear com os amigos, para resolver problemas existenciais, para chatear a sogra, para não ter que dar boleias nem ajudar em mudanças. Porque é que alguém haveria de querer andar de carro?

Quanto gasta realmente uma scooter? Existem muitos modelos de scooter, com performances muito dispares. Os consumos podem ir dos 2 litros e pouco de um modelo de 50cc a 4 tempos até quase aos 6 litros por cada 100/km de um modelo de 600cc. Actualmente começam a surgir também scooters eléctricas, ainda mais económicas de utilizar.

Quanto pode custar uma scooter? Tal como sucede com os automóveis, aqui também há modelos económicos, desportivos, retro, de luxo e até de carga. Um bom modelo de 50cc pode custar de 1300 Euros para cima. Uma scooter de 125cc custa entre 1500 e 4200 Euros dependendo do nível de luxo e complexidade. E há versões ainda mais caras de 250, 300, 400, 600, 650 e 800 centímetros cúbicos.

Quanto é que anda uma scooter? Qual a velocidade máxima? Questões legais aparte, e como regra geral, as melhores scooters de 50cc podem chegar aos 70km/h, as melhores de 125cc chegam aos 110, as 250cc chegam aos 120/130 e as maxiscooters de 400/500/600cc andam ainda mais.

Pode uma scooter circular entre carros? Legalmente, não pode. Mas, como em qualquer pedaço de legislação criado em Portugal, nem tudo é claro. Um scooterista pode sempre efectuar uma ultrapassagem, desde que tenha espaço para o fazer em segurança. E como em qualquer ultrapassagem, quem está a ser ultrapassado não deve dificultar a manobra. Ora se houver espaço entre filas de carros parados, o scooterista avançará até ao semáforo pelo meio das faixas. Nunca vi ninguém ser multado por realizar esta manobra.

Andar de scooter é perigoso? Sim! Estatisticamente é mais perigoso do que andar de elevador, de avião, ou estar sentado na esplanada da praia. Mas menos do que comer bitoque ao almoço e alheira de Mirandela ao jantar.

É verdade que os scooteristas e motociclistas causam muitos acidentes? Muitos? Quantos são muitos?? Na verdade, quase 80% dos acidentes envolvendo um veículo de 2 rodas ocorrem em cruzamentos, sendo responsável um automobilista que não respeitou a sinalização existente ou as regras de prioridade. Infelizmente uma minoria de motards que se mata sozinho a 200 km/h é que fica com todo o protagonismo.

Porque é que num semáforo vermelho o scooterista se encosta à berma ou passeio? Para evitar ser levado à frente pelo automobilista que não vai parar porque estava demasiado ocupado a falar ao telemóvel, acender um cigarro e trocar de CD, e "não viu" nem o scooterista nem o semáforo vermelho, situação não tão pouco frequente.

O que é um scooterista? É o tipo que vai montado em cima da scooter. A expressão tem também uma dimensão mais concreta, sendo aplicada a quem vive intensamente o fenómeno cultural que rodeia alguns grupos de utilizadores de scooters clássicas.

Uma scooter pode andar na auto-estrada? Se tiver 125cc ou mais de cilindrada e circular acima do limite mínimo legal para o troço onde se encontra, sim. Uma scooter pode, por exemplo, circular a 70 km/h na A1. Isso seria legal. Já circular a 150 km/h num qualquer popó não seria. Infelizmente sabemos qual destas duas situações é a mais habitual...

Por que é que as scooters não se chegam para a direita para eu as ultrapassar? O automobilista (não sei se vou chocar alguém) não detém nenhum direito ou privilegio sobre os outros utilizadores da via pública. Independentemente da velocidade a que circule, o scooterista tem direito a conduzir ocupando a faixa do sentido onde segue. A berma da estrada está interdita a todos os veículos.

É comum eu ouvir protestos de scooteristas após uma ultrapassagem, porque? Se calhar não respeitou a distância lateral de segurança no momento da ultrapassagem. Como qualquer veículo de duas rodas, as scooters são naturalmente instáveis, ou seja, não se equilibram sozinhas. É de esperar algum movimento lateral, que necessita de espaço. Ao ultrapassar uma mota, scooter ou bicicleta, deve evitar "razias" e usar a faixa do sentido contrario, não o fazer é ilegal e estará a colocar os scooteristas em grande perigo.

Tuesday, 14 July 2009

Carro vs Scooter

Esta hilariante produção Neozelandesa é o dos melhores filmes que eu já vi sobre os benefícios de andar de scooter. Cortesia dos amigos do The Scooter Review. Tem um humor muito próprio, mas é despretensioso, senão mesmo brilhante:

Tuesday, 9 June 2009

No fundo, no fundo...

...eu queria era andar de bicicleta. Estou a falar a sério! Depois de me maravilhar com o BTT durante uns anos, comecei a meditar sobre um facto que me parecia extraordinário: conhecia muita gente como eu, que era capaz de pedalar 100 km no monte, num fim de semana, ou mesmo num dia. Mas não conhecia ninguém que fizesse os 10 ou 20 km para o trabalho durante a semana sem ser de carro... Porque haveria a bicicleta de ser só um instrumento de diversão? Certamente existia ali um potencial utilitário que ninguém estava a explorar.

A realidade das estradas portuguesas e a nossa nacional obsessão com o status explicam muita coisa. A verdade é que continua a ser um acto de coragem uma pessoa ir para a estrada numa bicicleta. Apesar disso, tenho reparado num aumento considerável do número de utilizadores de bicicletas utilitárias nos últimos anos, mesmo que esta seja uma apreciação feita a "olhómetro" e não esteja baseada em estatísticas.

Para quem eventualmente ignora os perigos envolvidos na condução de um velocípede na via pública, recomendo este vídeo simplesmente magistral, feito por um ciclista parisiense.

A realidade lisboeta/portuguesa difere "apenas" no facto de não existirem ciclo faixas, nem ciclovias, nem sinalização, nem... quase nada. Parece que as autoridades da capital começam a acordar para a questão, mas como em tudo, levamos já décadas de atraso. Eu acabei por me resignar a um uso ocasional da bicicleta para transporte. Uso esse que ainda espero incrementar. Termino com uma imagem da minha "scooter" a pedais, uma bicicleta dobrável da marca Dahon que por enquanto não substitui a minha CN. Ver aqui.

Wednesday, 3 June 2009

O homem da gaiola prateada


O enorme Mercedes Benz atravessa as faixas a toda a velocidade e trava impetuosamente, mesmo em frente à minha CN. Estava a controlar os seus movimentos pelos espelhos, e tinha já abrandado, pelo que aquela paragem não chegou a ser tão perigosa como poderia ter sido.

"Lá vamos nós outra vez..." pensei para com os meus botões. Nos últimos tempos pareço atrair episódios de "road rage" de cada vez que me faço à estrada. Há menos de dois meses, acabei o dia num esquálido posto da PSP, depois de um condutor me ter tentado atirar ao chão, por várias vezes, no meu percurso para casa. O meu crime de lesa-vaca-sagrada foi ter buzinado para avisar este senhor que ele estava a fazer marcha a trás para cima de mim.

Desta vez, no entanto, a culpa era minha. Momentos antes estava a tentar furar uma fila de carros pouco cooperantes, na marginal, quando inadvertidamente dei um pequeno toque no espelho de um imponente carrão de cor prata. Medindo o impacto mentalmente, achei que não valia a pena parar. Admito que o facto de se tratar de uma viatura de tantos milhares de euros também pesou na decisão, não por temer o valor que tivesse que pagar por um eventual estrago, mas porque nutro um certo desprezo por quem possui tais artefactos num país tão pobre e injusto como o nosso.

Talvez o estimado leitor considere desde logo incorrecto que se ultrapasse e circule de scooter entre veículos imobilizados. Se for esse o caso, tenho pena de si. É verdade que é ilegal, mas votar também o era, não há muito tempo atrás. Se o português é comodista e insiste em ir a todo o lado sozinho na sua intocável gaiola-sagrada, entupindo e poluindo tudo à sua passagem, eu sou obrigado a esperar também? Não me parece.

No entanto, eu sou a minoria. Por todo o lado sou relembrado desse facto. Até pelos meus próprios amigos. Sou também extremamente vulnerável encima de uma scooter, no meio de maníacos protegidos na sua armadura de lata. Poucos facilitam a passagem. Parecem querem condenar todos à tortura diária que escolheram para si próprios. Alguns chegam mesmo a fechar a passagem, atirando o carro para cima de mim. Parecem acreditar que isso é uma forma de justiça. Se eles esperam, todos têm que esperar. E se eu acabar debaixo do carro, a culpa será certamente minha, já se sabe como as motos são perigosas, não é?

O pequeno homem sai do carro, furibundo. Diz que eu lhe bati e fugi, que devo ser parvo, que sou uma besta. Gesticula, está histérico, descontrolado. Eu estou muito calmo, "vamos lá ver o estrago" convido, ignorando a forma como aquele senhor de baixa estatura se estava a expressar. Olhamos para o espelho e não vemos absolutamente nenhum dano. Nada. Se eu já o esperava, ele parece surpreendido. Em vez de tomar conforto neste facto, parece ficar ainda mais agitado. Agora diz que tenho "merda na cabeça" e que vai atirar o carro para cima de mim. Sim, é isso, vai atirar o carro para cima de mim. Diz que os ricos podem tudo e ri histericamente. Permaneço em silencio. O pequeno homenzinho usa um casaco de malha e uns óculos de aros redondos, parecendo ainda mais frágil. Podia acalma-lo com alguma violência física. A ideia ocorreu-me. Mas para quê? "Homem, vá-se embora" acabo por dizer. E no meio de mais ameaças, vou-me eu embora. Ele salta para o carro e persegue-me por alguns quilómetros. Depois desiste.

Se lhe ocorreu porque não tenho escrito nada ultimamente neste blog, esta é a resposta: o que tenho para contar é tudo tão negativo, tão triste, que prefiro não o fazer. Nesta sociedade de 5,5 milhões de sagrados automóveis e mais alguns de pessoas ignorantes e preconceituosas, é difícil andar fora do rebanho. Esperando que nem todos tenham a minha experiência, e não querendo assustar ninguém que esteja a pensar fazer-se à estrada numa scooter, eu fico por aqui.

Monday, 26 January 2009

Barcelona, a cidade das duas rodas

Este vosso escriba desaparecido está de volta para partilhar as emoções de uma pequena deslocação à cidade mediterrânea de Barcelona. Aos meus dois fieis leitores e ao meu gato, as minhas desculpas por tão longa ausência, mas desde cedo fui ensinado a manter-me em silêncio, se nada de relevante tivesse para partilhar. (Já sei que não é essa a tradição portuguesa...)


Eis-me pois chegado a Barcelona, vindo de uma louca deslocação Lisboa-Porto-Girona que envolveu quase todos os meios de transporte criados pelo homem. Todos menos dois, os meus preferidos, aqueles que ostensivamente agora me entravam pelos olhos adentro: a bicicleta e a scooter!


Mesmo quem nunca tenha estado em Barcelona terá já ouvido falar da sua larga tradição scooterista e motociclista e da sua mais recente paixão pela bicicleta. Tais referencias transformam-se em realidade concreta no centro da bela urbe catalã: filas de pequenos motociclos estão estacionados por todo o lado, em locais próprios, e facilmente se podem encontrar estações de ancoragem das bicicletas de serviço público, o bicing.


Há toda uma dinâmica muito especial no que toca a mobilidade na capital da comunidade autónoma da Catalunha. É tão comum ver pessoas a deslocarem-se em bicicleta como de carro, como de scooter. E todos coabitam os mesmos espaços, com a diferença que por aquelas bandas os automobilistas não praticam os abusos a que estão habituados os congéneres portugueses. Não há carros estacionados em cima dos passeios, a obstruir a passagem. Não há má vontade para com as bicicletas e menos para com as scooters, que são as verdadeiras rainhas da cidade. É normal ver senhoras de salto alto, com a sua mala pendurada da argola no escudo da scooter cruzar tranquilamente as grandes avenidas. Toda a gente anda de scooter, novos, e menos novos, homens e mulheres, de fato ou de fato macaco, em vespas clássicas ou em maxi-scooters de última geração. É um fenómeno que impressiona.


Confrontado com esta realidade, rapidamente conclui que só havia uma maneira de conhecer a cidade. Além de a pé, claro, coisa que também fiz. Não, não seria de scooter, porque as que existem de aluguer não me atraiam, eram caras e não tinha material de protecção comigo. Na verdade, só o facto de existir essa possibilidade é coisa de louvar, mas eu optei pela bicicleta. Estava fascinado com a possibilidade de largar a montada numa "estação", ir visitar alguma coisa a pé e depois apanhar outra bicla para o regresso noutro ponto da cidade. Infelizmente, a bicing é só para utilizadores registados, o que faz sentido, mas invalida o seu uso por turistas. Optei então por uma bicicleta de aluguer, uma pasteleira holandesa contratada a um senhor que me pareceu também holandês, não muito longe da Plaça de Catalunya.


Nesta maravilha de 20kg e três velocidades (na verdade, e durante a maior parte do tempo, duas!) percorri com a Marta a maior parte das zonas de interesse turístico da cidade: andamos pelo porto, subimos a Montjuic ver a vista e conhecer a zona olímpica, descemos para a Praça de Espanha, perdemo-nos pelo centro e rumamos ao Parque Guell. Esta deslocação foi particularmente aventureira uma vez que tão a norte já não há ciclovias nem vias cicláveis, e o desnível do terreno é assinalável. No entanto, não registamos nenhum comportamento agressivo e não apanhamos nenhum susto em todo o percurso.


A pequena câmara digital que levávamos ficou sem bateria numa altura chave, mesmo assim deu para registar uns bonecos das scooters de Barcelona, uma cidade que sabe o que faz em matéria de mobilidade.




Se a scooter é rainha em Barcelona, a rainha das scooters da cidade é a Honda Scoopy. Desde as já ancestrais Scoopys 50 e 100 até à predominante 125/150 e a nova 300, as scooters da Honda são a principal forma de transporte motorizado de Barcelona. E se estes modelos de roda alta são um inegável sucesso de vendas, outros modelos Honda parecem também merecer a preferência dos nativos.



Os responsáveis autárquicos lisboetas não perdiam nada em estudar o exemplo de Barcelona. Infelizmente, a comparação entre as duas cidades, no que toca a mobilidade, faz Lisboa parecer um burgo saído da idade média.

Wednesday, 10 December 2008

O longo e frio inverno de 2008

A falta de posts frescos neste blog está directamente relacionada com a falta de quilómetros realizados de scooter nos tempos mais recentes. Se mal não recordo, a última vez que meti gasolina na CN foi dia 13 de Novembro, há quase um mês. Entre deslocações para fora de Lisboa em trabalho e boleias, tenho usado a scooter em média uma vez por semana.

O frio, a chuva, a revisão da CN que se aproximava a largos passos (será amanhã), e alguma preguiça, tudo se conjugava para deixar a scooter em casa. Ontem, fui acordado para a realidade por dois factores de peso. Primeiro fiquei preso em engarrafamentos várias vezes no mesmo dia, e rapidamente percebi que já não tenho paciência para isso. Depois fui por gasolina no carro e gastei de uma vez quase o orçamento do mês da CN... Reality Check! Passar a vida stressado, enlatado e entalado, contribuir para a riqueza das grandes petrolíferas e os Xeques das Arábias não é para mim!

Além de tudo isto, sinto falta daquela sensação de liberdade que só as duas rodas podem dar.

Ando a planear algumas mudanças na minha vida, a mais importante é a saída de Lisboa para os arredores. Sobre a scooter também recaem algumas hipotéticas alterações, ainda não decidi, mas como sempre, vocês serão os primeiros a saber.

Os segundos, vá.

Eu digo qualquer coisa...

Tuesday, 23 September 2008

Vectrix test-ride


Se acharam que não dei grande importância às outras scooters eléctricas (e bicicletas) que havia em Belém, provavelmente têm alguma razão. A verdade é que a minha atenção se centrou na Vectrix, assim que percebi que havia umas por lá.

Na tenda da marca havia mesmo um modelo pintado com as cores da PSP, segundo parece a Vectrix está em avaliação para ser adquirida em grandes números por essa força policial.


Mas eu estava era interessado em por as minhas mãos numa destas maravilhas eléctricas, e foi isso que fiz. Depois de ter lido não sei quantos ensaios, testes e comparativos, era quase estranho estar com o guiador de uma Vectrix nas mãos. Já muito se tem dito sobre o centro de gravidade realmente baixo de estas scooters, e eu só posso confirmar. O peso quase não se sente, e, talvez também por causa de uma acertada ergonomia, estar em cima da Vectrix é realmente confortável.


Em andamento, a Vectrix surpreende desde logo por uma razão muito simples: potência! Muita potência disponivel, logo desde o arranque. Aliás, fiquei com a impressão que havia ali algum truque para evitar derrapagens da roda de trás nos arranques, tal é o poder que o motor electrico disponibiliza. Para quem não está habituado, o feeling é muito diferente do de um motor de combustão. Sim, é silencioso, só se ouve um zumbido que até tem a sua piada. Mas é sobretudo muito linear, aquilo não para de empurrar, sempre mais... A zona de testes era limitada para perceber as potencialidades reais do motor, mas chegou bem para perceber que nos arranques do semáforo seria necessário um carro desportivo ou uma mota "mota" para bater a Vectrix.


A travagem é potente, já tinha lido sobre isso, mas felizmente não confirmei que chega a ser perigosa de tanto poder disponível. A travagem regenerativa, rodando o punho ao contrário é bastante intuitiva e funciona mesmo. O comportamento é muito bom, a scooter sente-se sempre estável e em poucos minutos sentimo-nos bem à vontade com a Vectrix. Mais uma vez, faltava tempo e espaço para poder testar as suas reais capacidades.

Onde a Vectrix desilude um pouco é na qualidade de construção. Os materiais utilizados e o rigor da montagem não estão ainda ao nível das rivais convencionais japonesas. É pena, porque pelo preço que se pede por ela, uma pessoa ficaria bem mais satisfeita se a sua qualidade fosse pelo menos igual ao de uma Burgman, por exemplo. Não é o caso.

Em tudo o resto no entanto, a scooter não desilude. Não é um brinquedo ecológico, é uma maxi-scooter que não precisa de pedir desculpa a ninguém por não ter um motor de combustão interna. Faz o que fazem as outras e até faz mais. Anda bem, (anda muito!) tem um equipamento muito bom, é muito confortável e gasta uns cêntimos por cada 100km. Baixem um bocado o preço e aumentem um pouco a autonomia e embrulhem-me uma, se faz favor.

Scooters e mais coisas eléctricas em Belém


Confesso que não percebi exactamente o que se passava. Tinha sido informado no Sábado de que havia um test drive de scooter eléctricas (obrigado Rita!) na zona de Belém. Quando lá fui no Domingo, encontrei uma zona da Praça do Império delimitada por fitas e uma tenda da EDP que servia de base de operações.


Em frente à tenda estava uma tomada de corrente pública, que penso se tornará permanente naquele espaço. Era então possivel experimentar vários tipos de bicicletas eléctricas, scooters e trotinetes. Em frente ao planetário havia também uma espécie de feira de veículos ecológicos, ou pseudo-ecológicos (os amigos da VW parecem pensar que um carro a gasóleo é “ECO”) com várias marcas representadas, alojadas em pequenas tendas, entre elas a Toyota, a supra citada VW e a Vectrix!


A Marta fez questão de, no pouco tempo de que disponhamos, experimentar várias bicicletas eléctricas. Infelizmente, não ficamos com muito boa impressão delas. Em modelos diferentes a corrente saltava, sem razão aparente. As mudanças custavam a entrar, a travagem era deficiente...



Fiquei com a ideia que se espera que estes produtos sejam bem sucedidos só pelo facto de serem não-poluentes, sem grandes preocupações com a qualidade, durabilidade e o lado prático do modelo em si. Estou talvez a ser muito duro, mas desta forma só se consegue atrair o pessoal que já tem consciência ecológica e esses não precisam de ser convencidos. Infelizmente, são uma minoria. A maior parte das pessoas ainda não vê estes veículos como alternativas credíveis para o seu dia-a-dia. Tal como a maior parte dos visitantes que observei naquele espaço, que pareciam só achar “piada” aos “briquedos”.

Wednesday, 3 September 2008

Custos & Considerações


Está a fazer precisamente dois anos que circulo por Lisboa de Scoopy. Dois anos desde que deixei de andar regularmente de automóvel e transportes públicos para passar a depender, quase inteiramente, da minha scooter.

É pois chegada a altura de fazer um balanço. O mais fácil é falar de números, por isso começo por dar conta das distâncias e custos totais para estes 2 anos:

Pneus: 2 (125 Euros)
Revisões: 3 (630,22 Euros)
Km percorridos: 16.000 km aproximadamente
Seguro (de responsabilidade civil): 2 anos 412 Euros
Consumo de combustível (média dos últimos 2000 km): 3,13 l/100 km

Média mensal: 625 km
Média de quilometragem mensal recente: 1000 km
Custo mensal gasolina: 30 a 50 Euros
Custo médio mensal global: 100 Euros

Há também a reportar um acidente (com ferimentos e despesas médicas na ordem dos 1.500 Euros) que envolveu reparações dos plásticos da Scoopy que ascenderam a 898 Euros.

Avarias: Fiquei sem bateria uma vez, a pobre já andava a dar energia à Scoopy há pelo menos 5 anos. Tive problemas com as suspensões, retentores à frente, amortecedores atrás. Os custos estão incluídos nos totais de manutenção.

É fácil concluir que circular de scooter não é assim tão barato e que envolve grandes perigos. É até demasiado fácil. A verdade é que, se fizerem as contas às despesas reais de um autómovel, como muito bem fez o autor do conhecido blog 100DiasdeBicicletaemLisboa, vão perceber que estes custos até são baixos. E poderiam baixar mais: a minha oficina não é das mais baratas. Se estivesse filiado em algum clube (não estou a falar de bola, mas do Vespa Clube de Lisboa, por exemplo) poderia conseguir aceder a um seguro muito mais em conta.

Vendo a proporção das despesas da Scoopy comparadas as que tinha com o meu carro, chego a um valor aproximado de 1/3!

Sim, é verdade, uma scooter não pode substituir inteiramente um automóvel. Uma scoooter não transporta móveis, bicicletas ou mais de 2 pessoas. Não é possível ir a Guimarães e voltar no mesmo dia de Scoopy! Há condicionantes, deve-se ter em conta a meteorologia (não queiram andar numa estrada nacional no meio de uma tempestade!), evitar andar de noite, planear bem os trajectos, em viagem fazer tiradas mais curtas, por causa do cansaço.

E sim, há perigos. As nossas estradas ainda estão por civilizar. As scooters são ágeis mas lentas. Muitos automobilistas não compreendem a natureza instável e frágil dos veículos de duas rodas, não respeitam distâncias de segurança, nomeadamente em ultrapassagem. Nos cruzamentos muitas vezes vigora, em lugar das regras de prioridade, as regras da intimidação.

A opção é sua, ou neste caso minha. A vertente prática, o poder estacionar em todo o lado, não perder tempo com o trânsito, mais o factor "fun" aliado a custos reduzidos, para mim não deixam margem para dúvidas. Mesmo os transportes públicos, demorados e mal organizados, não são concorrência. Prueba superada!

Tuesday, 3 June 2008

Revisões

A Scoopy está de volta à oficina da Honda, desta vez para a revisão dos seus já respeitáveis 24.000 Km. Tinha prometido a mim mesmo que não voltava aquele sítio, mas a falta de alternativas e o pouco tempo disponível para outras soluções tornaram pelo menos mais esta visita inevitável. Já preparei a carteira...

Sem a Scoopy, o dia foi bem diferente. Para pior. Não é só a minha scooter que precisa de uma revisão, há por ai muita coisa a precisar também de ser revista! Logo para começar, fiquei apeado na zona industrial de Alfragide. Tinha pensado que me safava de transportes públicos, mas não foi bem assim. Primeiro, há que referir que toda aquela zona é impiedosa com os peões. Os passeios simplesmente não existem, e onde os há estão automóveis a ocupa-los. Aliás, alguém deveria atribuir um prémio especial para os arquitectos acéfalos por detrás do novo centro comercial Jumbo: eles conseguíram fazer mais um monumento ao grande Deus Automóvel, um edifício totalmente desprovido de acessos pedestres, sem fachada, e sem portas térreas. Quer entrar? Entre pelo parque de estacionamento, a única maneira civilizada, pois então. As zonas relvadas à volta do centro estão marcadas por vários carreiros, prova desnecessária de que ali andam pessoas, seres humanos, sem rodas, que mereciam no mínimo uns palmos de passeio. A câmara municipal naturalmente aprovou de bom grado mais este mono de "Shopping" e sua zona envolvente. Assim continuamos com uma visão urbanística 20 anos atrasada, ou pior, sem visão nenhuma.


Mas voltemos ao meu dia sem a Scoopy. Para sair da bela zona de Alfragide, esperei um bom bocado e apanhei um autocarro da Vimeca, conduzido por um pseudo-Fitipaldi bastante antipático. Paguei pelo bilhete 1.80 Euros, e obtive em troca uma viagem desconfortável (muito por culpa da condução marroquina do motorista), na companhia de miúdos de bairros sociais e quase uma hora de voltas desnecessárias por Carnaxide e Linda-a-Velha. No Alto de Santa Catarina saí, para caminhar o resto do percurso até ao meu emprego, no Dafundo. Como é natural, cheguei tarde ao trabalho. De Scooter teria levado um terço do tempo, ou menos, e chegado confortavelmente a horas.

No regresso, a caminho da fisioterapia, fiz uso do comboio (1.25 Eur) e do Metro (1.20 Eur). Levei uma hora a chegar, mais do dobro do tempo que a Scoopy necessita para cobrir a mesma distância. O conforto é razoável, especialmente no comboio (CP, linha de Cascais) que posso mesmo considerar agradável. Depois, do Hospital para casa, voltei a recorrer ao Metro e ainda tive que caminhar um bom bocado, que é como quem diz mais de 20 minutos. Resumindo, cheguei a casa mais de uma hora depois do habitual. Gastei no total cerca de 5 Euros em transportes, passei o dia a chegar atrasado aos sítios e ainda tive que caminhar bastante. Sinceramente, os transportes públicos fazem todo o sentido, mas os que temos não ameaçam o meio de transporte mais prático de todos, para não dizer divertido... Já sinto a falta da Scoopy!

Tuesday, 27 May 2008

Mais gasolina

Não, não estou a falar do site da moda o tal que indica os preços dos postos de abastecimento mais baratos. Quero falar é do clima que se vive actualmente à volta deste assunto. Até parece que o preço da gasolina não era já caro desde há anos. E de repente começa tudo a ficar assustado, inventam-se mil e uma maneiras de poupar na despesa da gasosa. Sempre com soluções estrambólicas, aumentar a pressão dos pneus, tirar peso, fechar os vidros, colocar gás nos pneus, conduzir sempre em quinta... Nunca se questiona é o fundamental: o uso do carro. Isso é que não. O carro é sagrado. Precisam mesmo dele, dizem. Sem ele não podem trabalhar, protestam. Pois sim.

Por mim, ainda tenho esperança que estes aumentos levem as pessoas a repensar a vida que levam e a (pouca) qualidade que essa mesma vida enlatada tem.

Saturday, 1 March 2008

Da mobilidade urbana e qualidade de vida

Às vezes gostava de falar de assuntos mais sérios e desenvolvê-los mais profundamente. Gostava de tratar aqui das injustiças flagrantes que confrontam os utilizadores das nossas ruas e estradas, gostava de falar dos temas que, de uma maneira mais lata, preocupam todos aqueles que insistem em circular sem utilizar o omnipresente e nefasto automóvel. Mas tratar de assuntos como a mobilidade urbana e a qualidade de vida nas grandes cidades, implica entrar na área da política (tudo é política, dizia alguém) e entrar em temas complexos e polémicos, pelo menos polémicos na nossa sociedade acomodada e atrasada. Gostava de falar desses assuntos neste blogue, e por vezes faço isso, mas recorrendo a pormenores das minhas aventuras diárias de scooter. Felizmente, um tal blogue mais sério existe, em bom Português, e tornou-se num dos meus favoritos. Leiam. Porque vale bem a pena.