Tuesday 11 July 2006

Chega de kinkilharia, queremos o original;The Kinks



(Rif de guitarra) Taram ram ram taram ram ram taram ram ram taram ram ram (agora com dois dedos aperta o nariz e canta) «girlllll, you really got me goin´, you got me so I don´t know what I´m doin´, yeahhh, you really got me now, you got me so I can´t sleep at night», taram ram ram taram ram ram taram ram ram taram ram ram...
Este rif de guitarra carrega sozinho toda uma história, a história de uma descarga eléctrica chamada rock´n´roll, de toda uma libido acumulada e então ejaculada, e mesmo de toda uma tensão social. Os The Kinks não eram os kings pois os The Who eram os meninos queridos dos mods e os Beatles e os Stones repartiam a coroa, mas faziam parte daquela elite que saiu da Inglaterra na primeira metade dos sessentas para conquistar o mundo. A british invasion, chamaram os americanos. Além dos já citados, ainda os The Animals, Spencer Davis Group, The Dave Clark Five, Small Faces, The Troggs, Manfred Mann, etc, uma seleção digna de um Tottenham Hot Spurs ou de um Manchester United de sessentas. De luxo.
Tenho uma foto do baixista, o Peter Quaife, vestido de parka militar, numa scooter, pronto para a acção. E acção era com eles, na bateria pelo Mick Avory, e nas guitarras pelos irmãos Davies, o Dave e o Ray. Este último viria a ser a alma matter de toda a pop britânica.
Taram ram ram taram ram ram... Se o primeiro single, o “Long Tall Sally”, era asssociado ao rock´n´roll americano apreciado pelos rivais dos mods, os rockers, o facto de ser do Litlle Richard, um preto maluco, tinha o seu lado bem mod. E uma versão do clássico da Detroit Motown “Dancing in the Streets” cantado pela Martha and the Vandellas só aprimorou o tempero. E aliás, algumas nuvens carregadas de Rythm & Blues devem ter atravessado o Atlântico e desabado em chuva pois rara era a banda inglesa da época que não tivesse sido tocada pelo seu groove. Taram ram ram...
“You Really Got Me” foi o terceiro e definitivo single, no tempo em que os singles abriam caminho para o sucesso, e o seu riff de guitarra um dos mais conhecidos de sempre. A aparição a tocar essa música no “Ready Steady Go” programa mod da BBC foi ouro sobre azul. Não poderia ser outra a inaugurar o primeiro álbum em 1964, álbum este ainda a transpirar América (blues, harmónica, Chuck Berry). No ano a seguir dois álbuns de rajada preparavam as almas para o “Face to Face” em 1966, e as coisas mudavam um pouco, numa viragem para algo mais conceptual, letras e som mais elaborados. “Face to Face” é genial, um dos primeiros álbuns com o espírito de abertura da segunda metade da década. Ouvem-se efeitos como telefones a tocar ou ondas do mar e textos que abordam o singular mundo da sociedade e essência inglesa.
A produção ficou a cargo do americano Shel Talmy, que além de todos os anteriores trabalhos deles também produziu para os The Who, David Bowie ou Creation. Salve Shel Talmy, os que vão ouvir os discos te saúdam.
Até ao final da década a veia compositora de Ray Davies concorreu com Jagger/Richards (Stones) ou Lenon/McCartney (Beatles) na criação de álbuns e músicas intemporais como “Death of a Clown” ou “Lola”, num ecletismo onde se ouviu laivos psicadélicos, music-hall, pré-hard rock, pérolas pop perfeitas e até country. E sempre very british. E sem Pete Quaife que deixa a banda em 1969.
Como ser psicadélico sem ser hippie era uma virtude eles com músicas como “You Really Got Me” ou “Till the End of the Day” influenciaram as bandas de garagem psicadélicas americanas. Continuaram, passando por álbuns conceptuais até ao envolvimento com o punk e a new wave (tanto envolvimento que Davies teve um filho com a Chrissie Hynde dos The Pretenders). Até que tudo acabou em 1997.
Taram ram ram taram ram ram taram ram ram taram ram ram «yeeeehhhh you really got me you really got me you really got me you really got me» tram tram tram...
Ninguém pode ouvir o designado “Britpop” sem conhecer os The Kinks, ninguém pode ouvir pop/rock sem conhecer os The Kinks.


Texto: O Rapaz do chapéu.
leoneldejesus@gmail.com

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