De início a sensação é estranha. A máscara, o equipamento incómodo e um pouco pesado, as barbatanas. Entrei vagarosamente na água até ficar com a cara submersa. Inspirei e o ar chegou com um silvo tranquilizador. Pela primeira vez respirava debaixo de água. Rapidamente esqueci a máscara ou o sistema artificial de respiração e o equipamento perdeu o peso. O silêncio era quase absoluto, interrompido apenas pela válvula de respiração e o murmúrio do mar. A deslizar pelo cabo da âncora começava a ficar mais escuro à medida que continuávamos a descer. Procurei pela minha filha, instintivamente. Mesmo com o respirador e a máscara consegui perceber que sorria. Sorri também e percebendo que ela se sentia à vontade neste mundo que não é independente mas diferente, relaxei eu também. Continuávamos a descer sempre sob o olhar atento do instrutor que nos recordava continuamente para compensarmos a pressão do ouvido interno. De repente tocamos o fundo do mar. O Castelo de Nemo é como chamam a este local. 14 metros, indicava o mostrador da minha consola. Comecei a olhar à volta e não me consegui decidir sobre qual a direcção que me deslumbrava mais. Nenhum outro meio ambiente se aproxima em abundância, diversidade e intensidade ao fundo do mar, lembrando-nos que a imaginação da natureza é imensa. Começamos a explorar a formação rochosa em forma de cratera vulcânica. Rodeamos a área encontrando peixes de cores e aspectos que só conhecia de aquários tropicais. Ouriços do mar, raias, lesmas do mar, estrelas... Assim que se habituavam à nossa presença deixavam de fugir e mostravam até alguma curiosidade, passando preguiçosamente a centímetros da máscara como que a estudar-nos. A vegetação era tão abundante como exuberante. Entramos na cratera e começamos a descer. Receei sentir alguma claustrofobia, mas a observação de tudo o que me rodeava não me dava tempo para isso. Um peixe escorpião veio fazer-nos companhia (convém não lhe tocar sem luvas, ou talvez nem assim!) e cardumes de espécies que desconheço rodeavam-nos. O instrutor fez sinal para o seguirmos e levou-nos por um túnel para fora da formação. Julguei que ía bater com o equipamento na rocha, mas não. Seguindo com calma e recordando todas as indicações dadas nas aulas teóricas, sair por aquele túnel foi fácil. Já fora fizemos um círculo ajoelhados na areia e começamos a aplicar os exercicios ensaiados em terra. Inundar e voltar a tirar a água de dentro da máscara, alterar a flutuabilidade com a respiração, praticar os sinais com as mãos e... ficar sem ar!!! O instrutor aproximou-se da minha garrafa e fechou o ar! Conforme antes combinado e praticado fora de água, inspirei as ultimas moléculas de ar que restavam na tubagem, aguardei 10 segundos e fiz os sinais de que estava sem ar e que precisava do respirador secundário dele. Após aprovação dele com o sinal respectivo, aproximei-me do colete equilibrador dele, peguei no "octopus" e após expulsar a água dentro dele inspirei calmamente. Tudo voltou ao normal. A Francisca fez a manobra também mas sempre comigo por perto pronto para lhe dar o meu respirador. Continuavamos a cerca de 12m de profundidade sendo que não é necessária descompressão, mas convém subir devagar. Começamos a subida com o meu manómetro a avisar que só tenho cerca de 70 atm de ar. Mais que suficiente. Não é fácil ter noção da velocidade a que estamos a subir, mas o relógio de mergulho apitava sempre que estavamos a subir muito depressa obrigando-nos a fazer duas paragens intermédias. A superficie do mar já estava visível e em poucos segundos respiravamos o ar ambiente. Que pouco valor damos a este ar que nos mantém até que nos falta! De volta ao barco e navegávamos já para o próximo spot enquanto trocava a botija para novo mergulho.
O mergulho autónomo significa desafiarmo-nos constantemente. É uma das raras actividades que fazem a adrenalina correr furiosamente trazendo simultâneamente uma calma e uma paz únicas. Novo mergulho, mais fácil e menos profundo. 8 metros abaixo surge o esqueleto de um cargueiro que anos atrás se confundiu com as luzes da costa acabando por naufragar. Devido à proximidade da costa foi desmantelado ficando pouco mais que o esqueleto do casco e a zona do leme. O deslumbramento com o que nos rodeava repetiu-se como se repetiram alguns exercicios de emergência, que desta vez eram já o exame para o curso. Tempo ainda para recolher uns "souvenirs", conchas e pedras, nada vivo. Se cada mergulhador não souber respeitar este luxurioso mas frágil meio, não restará muito para o próximo ver. A subida fez-se como se eu estivesse sem ar, usando o do instrutor, o que não estava longe da verdade pois o meu manómetro anunciava 40 atm.
Desde à muito que acalentava este sonho de mergulhar e estando em férias proporcionou-se a experiência. Dado o pouco tempo que ainda tinha, apenas pude tirar o primeiro nível do curso PADI, o organismo internacional que regulamenta o ensino do mergulho, sendo que sou agora oficialmente um PADI SCUBA DIVER.
Posso mergulhar até 12m/40'' e comprar equipamento, mas ainda com algumas limitações. Em breve vou tentar fazer os dois módulos teóricos e os 4 mergulhos que faltam para ser um Padi Open Water Diver. Apesar de deslumbrante percebo agora que o mergulho não pode ser iniciado de outra forma que a de obtendo um curso certificado. Seriam muitos os perigos a que estariamos expostos se não soubessemos usar devidamente o equipamento e todas as técnicas de mergulho. Já na posse destes conhecimentos, fica todo o tempo para nos sentirmos como peixe na água.
E o que é que isto tem a ver com scooters, perguntarão os mais atentos. É simples, também se usam scooters no mergulho: