Sunday, 26 August 2007

500 km de Scoopy (1ª parte)

(O que se segue teve lugar durante o verão deste ano, em alguma altura antes da presente data.)


Decidimos que iríamos passar um fim de semana prolongado, a Marta e eu, na zona da barragem de castelo de Bode, e que a viagem seria feita de Scoopy, deixando o carro na garagem. Com esta ideia de viajar de scooter na cabeça, a sentir um cheiro a aventura no ar, fiz menção de não descuidar alguns preparativos. Comprei lâmpadas extra, um kit para furos em pneus tubless e elásticos para segurar a carga. Comprovei os limites de carga no manual da moto, e verifiquei que podíamos contar com cerca de 18 kg de bagagem, e cerca de 180 kg de peso total máximo. Por outro lado, estávamos também limitados ao peso máximo por área, por exemplo 3 kg para a grelha porta bagagens de trás.

Com estás limitações, depois de algum debate, ficamos reduzidos ao seguinte equipamento para 4 dias:

1 Mochila de tamanho médio, com roupa para nós os dois
2 Toalhas de banho + 2 necessaire
2 Sacos-cama
2 Colchonetes
1 Tenda de 3 pessoas
1 Kit Furos + 1 Kit Lâmpadas + Rede + Elásticos + Lanterna
1 Tool Victorinox
1 Câmara fotográfica (compacta)
1 Rádio
1 Garrafa de água

A estes elementos há que acrescentar as carteiras, telemóveis, os nossos blusões, luvas e, naturalmente, capacetes.

Chega a data da partida, e estávamos os dois algo cansados e resolvemos atrasar um pouco a hora da largada. Tardamos também depois em conseguir uma configuração satisfatória para a carga. Por fim fizémo-nos à estrada. A primeira paragem teve lugar a 500 metros da partida, para encher o depósito e comprovar a pressão dos pneus. Eram perto das 11:00 da manhã quando fomos surpreendidos pelo trânsito de Alverca, onde, apesar de carregada até ao seu peso limite, a Scoopy fez gala da sua condição de scooter e pudemos serpentear habilmente pelo trânsito imobilizado, até à liberdade. Já em Vila Franca de Xira, avisei a Marta que a travessia da recta do Cabo seria possivelmente penosa. Eu estava certo, mas na verdade nem eu próprio sabia quanto...

A travessia da ponte de Vila Franca decorreu sem incidentes, mas logo a seguir, na recta, começou a dança habitual das ultrapassagens. Os ligeiros ultrapassavam-nos como se não estivéssemos ali, sem chegarem a sair da faixa, passando a centímetros dos retrovisores. Isto era especialmente perigoso por causa do vento que se fazia sentir e que obrigava a Scoopy a oscilar de um lado para o outro. Toda a carga que trazíamos funcionava como uma vela e era muito difícil manter a scooter no rumo certo. A Marta e eu agachavamo-nos como podíamos, mas isso não parecia ser suficiente. No sentido contrário passavam camiões, continuamente, e de cada vez que nos cruzávamos a pobre scoopy dançava ainda mais, a direcção ficava leve e vaga e as rodas pareciam querer sair do chão. Cada passagem parecia pronunciar despiste iminente. Era necessária toda a concentração e muita força só para manter a scooter no asfalto. O meu capacete quase foi arrancado em algumas destas passagens, e eu perguntava a mim próprio que estaria a Marta a pensar.

A nossa velocidade rondava os 70-80 km hora. A Scoopy talvez conseguisse mais, mas eu não me atrevia a rodar mais o punho com aquele vento. Pensei em abrandar, mas a visão intimidante da grelha de um camião, que ocupava por inteiro os meus espelhos e rugia atrás de nós, aconselhava-me a manter a velocidade. Esse camião falhou várias tentativas de ultrapassagem e era conduzido de forma impulsiva, dançando cada vez mais nos meus espelhos. Ponderei seguir pela berma, mas esta estava em tão mau estado que descartei rapidamente essa ideia como sendo um perigo ainda maior. De qualquer maneira, eu tinha o direito de ali circular, e a velocidade máxima permitida na maior parte do percurso da recta é precisamente 80 km/h...



Depois do que nos pareceram muitos minutos de pesadelo, conseguimos chegar a Samora Correia e a partir daqui a intensidade do trânsito diminuiu. No entanto, o percurso ainda nos reservava surpresas. À entrada de Benavente fui atingido na boca por algum bicho. A dor horrorosa obrigou-me a parar e por instantes eu não conseguia dizer palavra. A Marta felizmente percebera o que tinha acontecido e que ela descreveu como “mexeste a cabeça para trás, parecia que tinhas sido baleado”. A dor no lábio era intensa, mas não havia ferimentos visíveis, pelo que nos limitamos a trocar de capacete (o da Marta era um Jet com viseira, o meu era um Jet pequeno, com viseira “simbólica”) e seguimos caminho.

Prosseguimos viagem até Almeirim, onde aconchegámos o estômago com as delicias regionais locais (Sopa da Pedra, por exemplo) e eu coloquei gelo no meu lábio, que nesta altura me dava um certo ar de Savimbi.


O resto do percurso foi feito tranquilamente, sem pressas e apreciando a paisagem. Parámos para recobrar o fôlego num miradouro com uma vista deslumbrante para o castelo da Almurol e depois fomos evitando as autoestradas e vias rápidas. Chegámos a Constância com muito tempo para localizar o parque de campismo. Fizemos a estrada de ali até à barragem de Castelo de Bode perfeitamente maravilhados com a beleza do cenário. A estrada depois serpenteava pelos montes, subindo e descendo, obrigando a muito empenho na condução. Por fim localizámos o parque, que estava a concluir obras e praticamente deserto.

(To be continued...)

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