Não coloco aqui um post há muito tempo, e isso tem-me feito sentir algo culpado. Parece injusto e desconsiderativo para com a minha vasta legião de leitores, por isso aqui vai mais uma entrada, mas vou já avisando que não tem um tom muito optimista, sendo a minha falta de optimismo a razão principal da minha ausência.
Tenho andado a ponderar as minhas escolhas em matéria de transporte. A fiel Scoopy é imbativel no meio puramente urbano, e estou contente com isso. Mas para lá das ruas das zonas mais centrais da cidade, a verdade é que deixa algo a desejar. Mesmo muito espremidos, os 13 cavalos (aproximadamente) de potência, as suspensões de reduzida progressividade e curso, a falta de protecção aerodinâmica e de capacidade de carga tornam as excursões extra-urbanas algo complicadas. Mesmo as inúmeras e por vezes inevitáveis vias rápidas que invadiram a cidade se tornam um osso duro de roer para a Scoopy, principalmente se a viagem for feita a dois. E agora com o tempo frio e chuvoso, dou por mim a evitar usar a fiel montada...
Mas há ainda outro problema.
Com esta questão de pensar em mudar de scooter, que seria naturalmente de superior cilindrada, dou por mim a ponderar os riscos desta opção. Tenho visto tanta coisa na estrada, e lido outras tantas barbaridades nos media, que fico a pensar se valerá mesmo a pena o risco. Não falo por mim estritamente, que tenho ainda algum juízo, uso protecções qb e sei os riscos que corro. Mas sou obrigado a partilhar a via pública com todo o tipo de pessoas sem qualquer educação ou o mais elementar respeito pelo menos pela vida dos outros. Essas pessoas, na maioria, sentem-se seguras dentro das suas jaulas com 4 rodas e sentem sobretudo aquela sensação se impunidade que paira perpétuamente sobre os crimes da estrada em Portugal.
Para ilustrar este estado de coisas, posso mencionar um pequeno episódio que me sucedeu ontem. Não circulava de scooter, mas a pé, (o que equivale ao mesmo nível de proteccão) e estava a cruzar uma conhecida avenida da capital, numa enorme e visível passadeira, com o semáforo verde para mim. Vinda de um cruzamento (com semaforo de virar intermitente), a acelerar descontraidamente surge uma senhora num Renault Clio verde que olha para mim, vê-me no meio da passadeira e continua a acelerar na minha direcção como se nada fosse. Tive tempo de sair da frente, mas deixei o chapéu de chuva para trás (estava a chuviscar), chapéu esse que bateu no espelho e carroceria lateral do Clio. Apesar do estrondo, da violência da coisa, a senhora continuou como se nada fosse, aparentemente apressada para chegar ao próximo semáforo vermelho, a uns metros dali.
Este tipo de atitude é cada vez mais comum na estrada. A principal causa de morte e lesão grave entre os utilizadores de duas rodas são as colisões com automóveis ligeiros que ignoram prioridades, não vêem, não param quando a isso estão obrigados e que sistematicamente se fazem valer do facto de se sentirem seguros dentro dos seus veículos para intimidar os outros utilizadores da via pública. Muitas vezes as vitimas destes automobilistas são depois abandonadas à sua sorte, porque estas pessoas não param mesmo depois de matarem alguém.
É claro que a imagem que prevalece entre o público em geral é de que são os utilizadores das duas rodas que são uns "motards" lunáticos, que mancham as estatísticas com mais acidentes por veiculo que em qualquer outra classe, que fazem "cavalinhos" a 250 km/h, que ultrapassam de qualquer maneira e que naturalmente se matam por aí... Mas os estudos dizem coisas bem diferentes. E a minha própria observação também. Eles não se matam por aí, os utilizadores de veículos de duas rodas são mortos. E ultimamente não consigo evitar pensar nisto.
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