Wednesday, 24 January 2007
O mod e o punk
Lembro-me daqueles tempos, na década de oitenta, de ficar a olhar fascinado para os crachás (hoje a malta chama pins) exibidos nas montras das lojas. E atenção, não era apenas em lojas alternativas, pois poucas havia, mas também em drogarias, retrosarias...e não só em Lisboa city mas também em toda a periferia. E os crachás eram dos The Clash, Sex Pistols, Ramones, The Stranglers, Stray Cats, Birthday Party, Sonic Youth, Subhumans, Siouxie & the Banshees, Joy Division, Bauhaus, The Cramps, Alien Sex Fiend, Madness, Dead Kennedys...alguma pouca coisa comercialoide à mistura e alguns de Heavy Metal. E dos Exploited. Eu era fã.
Tinha uns três ou quatro vinis deles que ouvia, sem exagero, todos de seguida. Uma das faixas dizia “fuck a mod, fuck a mod, fuck a mod today...”
Havia uns crachás que chamavam a atenção pelas cores, bandeira inglesa, o simbolo da força aérea britanica (o target), e nomes como The Jam escritos a spray e com setas nalgumas letras.
O mod por cá não nos dizia grande coisa, na letra da música então era um pouco abstracto, mas a verdade é que os Exploited é que estavam um pouco equivocados, ou então era simples pândega. É que apesar de na Inglaterra ou Escócia, a terra deles, ter provavelmente havido alguns atritos entre punks e mods naqueles finais de setenta e principios de oitenta, o verdadeiro problema para os punks eram os Teddyboys, renascidos do Rockabilly revival. Portanto a letra deveria ser alterada para “fuck a teddy, fuck a teddy, fuck a teddy boy...”
Não vou falar do nascimento do punk, mas vou afirmar que os punks não rejeitavam de todo a cena mod, ao contrário do que poderia parecer devido ao antagonismo do visual, à estética, ao som, e à filosofia. Foi em plena explosão punk inglesa no final da década de setenta que aparece um banda constituida por três tipos, vestidos com fatos e a tocar com uma energia incrivel, as letras não eram tão nihilistas como alguns contempôraneos mas abordavam igualmente questões sociais e de atitude da juventude de então. O som mais do que “punk” seria batizado de “power pop”. O nome desse power trio era The Jam. A sua energia era contagiante e muitos punks adoptaram-os, no entanto Paul Weller, o frontman, afirmava na altura querer algo mais, novas direcções, pois passado muito pouco tempo a pureza do punk já tinha sido empacotada pelas editoras e revistas de música e moda e vendida ao público como “fashion”. Com os The Jam vieram outras bandas, os Secret affair, os The Lambrettas, os Purple hearts, The chords, The Merton parkas, etc. Todas tinham algo em comum, uma estética e uma vontade de partir para o futuro (no future?). Mas era no passado que começava a história.
Muita gente que se interessou pelos The Jam foi procurar ouvir os The Who nos discos do irmão mais velho. Os The Who eram a referência mor no meio de tantas outras dos anos sessenta em que estes “novos mods” se baseavam. Chamou-se Mod Revival. A estreia do filme Quadrophenia em 1978 ajudou à cena nascente, e paralelamente acontecia a cena Two Tone, também algo revivalista de sessentas. Também os skinheads aproveitaram o punk e voltaram daquela década de onde nasceram como uma extensão mais radical do mod. Ora os The Who eram das poucas bandas mais antigas que os punks respeitavam, fosse pela agressividade de algumas músicas e pela destruição de material em palco, fosse pela música “My Generation”, um hino de rebeldia com um travo de existêncialismo que rivalizava com “Satisfaction” dos Stones. Atravessou gerações, sempre provocando espasmos fisicos e psiquicos em quem a ouça. E seria Roger Daltrey em 1977 a afirmar sobre o punk “Eu gosto dos The Stranglers e dos The Clash. São os meus dois favoritos.” e também foram palavras de Pete Townshend “quando se ouvem os Sex Pistols o que nos impressiona imediatamente é que isto está mesmo a acontecer”. Portanto, uma das coisas que faria confusão aos punks, seriam os fatos dos mods. Mas não têm um certo charme um rebelde de fato?
E lembrem-se dos Ramones e da sua paixão pelas bandas femininas da Motown, outro fetiche mod, e ouça-se o “Smash it up” dos The Damned e não digam que não soa um pouco a sessentas, ou que o baterista Rat Scabies no video não toca à Keith Moon, além de “New rose” ter uma citação das The Shangri-las, ou veja-se em compilações punk e new wave (outros um pouco apologistas do fato e gravata) e não está lá no meio os The Jam? E, e, e, e, e....
...chegamos aos dias de hoje. Diferenças à parte, não divergências, punks e mods encontram-se unidos pelo mundo fora. Convivem em festas e concertos, partilham espaços na net, o punk uniu-se ao ska e a comunidade rude boy uniu-se ao mod. O pessoal do rock de garagem juntou-se à maralha. Foram os dois movimentos mais criativos e não correm o perigo de serem datados. O mod pela sua diversidade interna e capacidade de evolução está sempre na linha da frente.
Quem disse que os punks não tinham bons mods?
Texto: O Rapaz do chapéu
leoneldejesus@gmail.com
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment