Fala-se muito nos foruns de motas, scooters e afins, de cumprimentos trocados entre scooteristas (e motociclistas). Muitas vezes fala-se mais é da falta de cumprimentos, diz-se muito que "antigamente é que era bom", "agora ninguém cumprimenta" ou que "agora nem param para ajudar". Estas coisas costumam ter algo de tribal.
Com o tempo, eu fui ficando com a ideia que os "motards" de pêlo na venta só cumprimentam outros motards "sérios", principalmente se forem da mesma sub-espécie: a malta das RR's só fala a outro RR, a malta das vespas só fala à malta das vespas e por aí fora (consta que o pessoal das Harleys não fala a ninguém, porque têm dinheiro para isso ou que são tão maçaricos que não fazem ideia do que queira dizer o cumprimento). Enfim, nos foruns, quando há estas discussões, vem quase toda a gente dizer que sim, que eles sim cumprimentam todos, sem excepção, e que não se importam se não obtiverem resposta.
A minha experiência neste assunto é muito simples. Ao princípio acenava, principalmente aos outros scooteristas. Acho que o fazia sobretudo por causa da minha experiência com o BTT, que é um meio onde isso só não acontece em provas ou passeios de muita gente. Não custava nada, afinal somos tão poucos, uma pessoa pode fazer muitos km de scooter sem nunca ver um outro veículo de duas rodas, mesmo em Lisboa. A questão é que nunca obtive resposta e com o tempo e a necessidade de concentração, acabei por deixar o assunto de lado. Imaginei que o problema era não fazer parte de uma tribo, as scooters já são raras, a minha então é uma pobre utilitária desconhecida (por cá), e não tem a tão importante imagem de status, necessária neste nosso rectângulo Ibérico. Enfim, habituei-me a ser invisível não só para os enlatados como para os outros utilizadores das duas rodas.
Hoje, na marginal, à saída de Algés, um scooterista, numa pequena scooter "de plástico" de uma marca e modelo desconhecido, cumprimentou-me. Foi uma coisa tão inesperada que quase não tinha tempo de responder. E soube bem. Garanto-vos. Depois de passar o dia a desviar-me de enlatados cegos surdos e malucos, é incrível como um simples gesto ajuda tanto a não te sentires sozinho na estrada. Depois de quase ano e meio, a esperança renasce!
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