Tuesday, 8 August 2006

The Cramps – Uma estória de amor dos tempos modernos

cramps

Os The Cramps são uma das melhores bandas do mundo. Ponto assente.
Os The Cramps são uma das minhas bandas favoritas. Ponto assente.
Os The Cramps vão ao festival de Paredes de Coura e eu não vou. Ponto assente.
Porquê? Ninguém tem nada a ver com isso. Ponto assente.
Psychobilly? Rockabilly? Rock´n´roll! A ala mais liberal da malta que curte os anos cinquentas gosta deles mas a ala dura, tradicional e parada no tempo, nem por isso, e porquê? Porque os The Cramps são originais e nunca foram puristas, além da aura dos pioneiros do rock’n’roll e dos primórdios do rockabilly eles são influenciados por cromos como o Link Wray ou Hasil Adkins, também pela década de sessenta através da surf music e muito pelas bandas de rock alucinado de garagem, e claro, pelo punk. Voltando às poupas brilhantinas, vejamos; o visual da banda nunca foi exactamente igual ou mesmo muito parecido, é assim mais para o trash americano, freaks do rock’n’roll, a formação com um casal e por vezes outras mulheres a tocar também não é habitual no género, o rockabilly deles é mais no estilo “twelve bar blues”, portanto mais bluesy, mais negro, o facto do vocalista travestizar-se em alguns álbuns na década de noventa também não cai bem, e danças coreografadas dificulta a curtir o som deles. Contrabaixo é mentira e mesmo o baixo só aparece uns álbuns mais tarde. Isto além de terem usado pioneiramente em cartazes de concertos o termo “psychobilly” mas não gostarem de ser associados a ele pois tornou-se depois um género musical, e do qual os ingleses The Meteors consideram-se os deuses (“only Meteors are psychobilly”, dizem eles e os fãs, e eu digo, ok, levem lá a bicicleta). O próprio psychobilly, que significa rockabilly psicótico, não é totalmente apreciado pelos puristas da poupa brilhantina pois tem origem na mistura do rockabilly com o punk na década de oitenta na Inglaterra, apesar da já falada origem Crampeana. Mas Meteors existem por aí, Cramps é que é mais difícil.
A compra por volta de 1987 do álbum “A Date With Elvis” é um dos acontecimentos da minha vida. Naquelas agridoces tardes adolescentes na sala do som lá de casa, eu e o meu grande amigo de punkalhada Paulinho injectávamos The Cramps nas veias. Primeiro limpávamos o acetato, depois cuidadosamente a agulha, e por fim, lentamente, a agulha penetrava o vinil. A pedra era quase instantânea, um som pairava no ar para depois de repente explodir. Estávamos agarrados, viciados. Era um encontro com o Elvis diziam eles, mas comprei foi um Elvis marado, adulterado. Bendito dealer. E na Juke Box do Bairro Alto era praticar a dança esquizofrénica geralmente ao som da “You got good taste” entre Bauhaus ou Ramones.
Os The Cramps são uma estória de amor. Lux Interior e Poison Ivy. Parece que se conheceram na Califórnia em 1972 quando iam frequentar um curso em comum, mas também se diz que o futuro vocalista Lux Interior quando viajava encontrou Poison Ivy, futura guitarrista, a pedir boleia na estrada. Love story on the road. Qual a verdade? A primeira é oficial mas fico com a lenda, é mais rock’n’roll. Além da música de que já falei no início do texto eles partilhavam gostos em comum que colocaram na génese da futura banda; Filmes de série B e do Russ Meyer, banda desenhada de terror, humor negro, sexo, muito, com ou sem fetiche (neste caso o Bondage tem preferência), drogas, excêntricos diversos. Resumindo, toda uma (anti)cultura trash americana.
Em 1975 já estavam em Nova Iorque e em breve a tocar no CBGB ao lado de outras bandas que fizeram o som alternativo desse tempo como os Ramones, Blondie, Suicide, entre outros. Entretanto voltariam à California mais tarde e o primeiro álbum, um EP, só sai em 1979. A partir daí e até hoje são catorze álbuns, todos excelentes, todos possuídos de um som directo, bruto, por vezes minimal, provocando uma catarse primitiva não fosse rock’n’roll. À volta do casal Lux e Ivy colaboraram sempre excelentes parceiros, destaque-se ao longo do tempo os guitarristas Bryan Gregory e Kid Congo Powers, o baterista Nick Knox, ou a baixista Candy Del Mar, que estreou oficialmente o lugar de baixista pois até aí eram apenas duas guitarras e bateria.
A música “Bikini Girls With Machine Guns” em conjunto com o clip onde se vê Ivy em bikini e com uma metralhadora a disparar a torto e a direito é sugestivo, então agora no verão, e neste ano em que além da Vespa fazer sessenta anos também os faz outro grande objecto de design (desejo), o bikini.
I´m cramped.


Texto: O Rapaz do chapéu.
leoneldejesus@gmail.com

No comments:

Post a Comment