Monday, 31 July 2006

Os rapazes estão bem e eu também – The Poppers



Um conceito, uma imagem, um álbum, uma descarga eléctrica ao vivo, uma banda, quatro amigos. Os The Poppers são Luis Raimundo, voz e guitarra, Nuno Santos, baixo e voz, Pedro Candeias, bateria e voz e Nuno Jesus, guitarra e voz, e são influenciados pelo pop/rock escola mod anos sessenta, e só o futuro assistirá ao crescer da banda mas no presente “the kids are alright” como diziam os The Who.
Num bar antes de um concerto conversei com o Raimundo (Rai) e com o Nuno Santos (Pardal) e entornei um pouco da Guinness em cima da folha com as perguntas. O gravador ficou a seco.


Vocês juntaram-se em Agosto de 2000 nos Olivais. Pelo tamanho e pela juventude que tem, os Olivais não deveriam ter tido mais bandas conhecidas?
Pardal- Acho que os Olivais tiveram algumas, os Radar Kadafi...
Rai- Xutos e Pontapés ensaiaram lá.
Pardal- O Leonel, da voz, também passou por lá, começou nos Xutos.
Rai- O grande Leonel.
Pardal- Houve algumas bandas que começaram por ali, e se nós formos uma dessas e alguém esteja a dizer o mesmo daqui a uns anos, tá-se bem.

Até 2004, ano em que a música “Your Letter” saiu numa compilação da editora inglesa Matchbox Recordings, o que fizeram? Concertos?
Rai- A nossa música basicamente restringe-se a concertos, a tocarmos ao vivo. Fomos gravando maquetes, uma das maquetes serviu para andarmos no circuito nacional de concursos de música moderna, chegamos ao de Corroios, um dos que participámos, e ganhamos.

Ganhar esse Festival de música moderna de Corroios em 2005 foi o “rastilho”?
Rai- É verdade, o EP que gravámos pelo prémio em Corroios deu-nos muita visibilidade e fez com que também corressemos as Fnacs, o que deu em as pessoas ouvirem falar no nome The Poppers.

Foi a Rastilho Records. Assinaram com ela logo de seguida?
Rai- Não, não, fomos gravar o disco este ano, em Janeiro, mandámos para algumas editoras pequenas e houve algumas que responderam. A melhor opção, a que dava melhores condições foi a Rastilho.

É uma editora ou uma espécie de família?
Pardal- Começou por ser uma editora, agora conforme a gente vai-se conhecendo começa a ser família. As pessoas que estão à nossa volta acabam sempre por ser família porque senão não ficam à nossa volta. Com eles é isso que está a acontecer acho eu.

E a gravação? Correu bem? Ou o Paulo Miranda, o produtor, era um típico produtor chato?
Pardal- Não não não não, nós saímos de lá com a ideia que o Paulo era o nosso quinto elemento. Correu muito bem.
Rai- E houve uma questão curiosa. Nós tivemos lá duas semanas mas conseguimos gravar o disco em dois dias, o que foi muito bom. Aquilo foi gravado em take directo, foi como se tivéssemos a tocar ao vivo. Ele consegue captar muito bem o momento, a partir daí aprendemos muito com ele. Eu pessoalmente não me considerando músico aprendi muito com ele.

O álbum "Boys Keep Swinging" tem tido grande rodagem nas rádios e atenção na imprensa escrita, tinham alguma expectativa do sucesso que estão a ter?
Rai- Nenhuma.
Pardal- Não, confiamos no trabalho que fazemos mas daí a termos sucesso...

Tocar ao vivo é especial para os The Poppers? Sente-se que têm prazer.
Rai- É a melhor coisa que nos podem dar, é tocar ao vivo. Quando estamos mais de um mês sem tocar enviamos mails a dizer que tocamos por cerveja. Isto é tipo cliché mas a nossa música só faz sentido ao vivo.

O Miguel Ângelo, o Delfim-mod, teve algum papel no vosso começo de carreira?
Rai- A cena do Miguel Ângelo foi engraçada porque isto tudo começou com um amigo meu que me ligou a dizer que estava a dar uma entrevista na Antena 3 em que o Miguel Ângelo tinha falado de nós. Eu pensei, “foda-se, o Miguel Ângelo a falar de nós?” Tinha de haver alguma relação de gostos musicais, uma referência. A partir daí começámos a comunicarmo-nos e ele tem incentivado.
E se ele ler esta entrevista um grande abraço para ele. É um gajo impecável.

A capa do álbum não é um tanto Yellow Submarine demais para tanta energia ao vivo?
Pardal- Não é só o Yellow Submarine mas toda uma época musical que está na capa do disco, que é tudo o que nós ouvimos.
Rai- Desculpa mas lembrei-me agora, sempre que uma pessoa esventrar, abrir, um CD nosso, o coração há-de ser sempre o mesmo, que é o Target dos mods. Foi a cena mod que nos fez fazer música.

Mas no entanto vocês na capa estão com um ar ligeiramente glam rock, e isto é um elogio, então tu Rai fazes-me lembrar o Marc Bolan dos T.Rex.
Rai- Eu olhei para a capa... foda-se, eu pareço o gajo do Laranja Mecânica, bué da pálido.

O Alex?
Rai- Sim, o Alex.

Ouvi dizer, de fonte confidencial, que em vez de uma laranjeira ou um cão tens uma Lambretta no quintal.
Rai- É verdade, uma Li 150, série 3, 1964, azul e branca. Andei com uma Vespa mas não era o amor da minha vida, o amor da minha vida era a mota do Jimmy do Quadrophenia, procurei e encontrei. Portanto não é uma árvore, é a minha Li que está lá e eu uso bastante.

A mesma fonte disse-me que vocês vão processar os The Who por plagiarem uma música vossa, a “My Generation”. É verdade?
Pardal- É verdade, o Rai nos concertos anuncia sempre essa música como sendo nossa de maneira que há que accionar os advogados.
Rai- Fui eu que fiz essa música na altura.

As jaquetas que vocês usam, da primeira vez que vos vi ao vivo, pareciam-me tipo napoleónicas, pensei que ia haver novas invasões francesas, afinal são dos fuzileiros americanos. Foram caras?
Rai- Foram o quê...quarenta, quarenta e cinco euros. Nove contos cada uma. Compramos no e-bay porque não havia outra maneira de as comprar. Era uma imagem que nós queríamos trazer, qualquer tipo de som está sempre ligado a uma cultura, e nós os quatro achámos por bem essa vestimenta porque está ligada aos anos sessenta. Queres uma?

Não, mas já estou a pensar numa parka militar para o Outono.
Rai- Tenho lá uma mas é capaz de te ficar grande.

Como é que sabes? Bem, a minha vai ser personalizada. Rai, estiveste na festa mod organizada pelo Vespa Gang. Os outros elementos têm alguma justificação por escrito por terem faltado?
Pardal- Eu estava a trabalhar. Os outros dois não estão cá não falo pelos outros.
Rai- Mas fica prometido que a próxima festa mod que houver se existir a possibilidade de tocarmos lá vocês oferecem-nos cerveja, ou gin, e a gente toca de borla.

Os rapazes vão continuar a swingar?
Rai- Sempre.
Pardal- Sim, para mim o rock’n’roll diz-me muito, o rock’n’roll, o swing, o rythm & blues dos anos sessenta, o que veio depois para mim não tem grande significado.


Texto: O Rapaz do chapéu. Foto: Rita Carmo
leoneldejesus@gmail.com

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