Sunday, 13 December 2009
Dia 89
Agora que já ultrapassei a quilometragem oficial indicada pela LML para a rodagem, agora que já trago comigo os documentos definitivos da scooter (demoraram cerca de 2 meses e meio), agora que já troquei de pneus, que já abasteci de óleo de marcas diferentes, que já lhe comprei accessórios, já rodei com chuva e vento, já lhe retirei os primeiros pontos de ferrugem que surgiram nos espelhos, já lhe fiz os primeiros arranhões, agora que já sou daqueles que têm sempre pelo menos uma vela e ferramentas no porta-luvas, agora que já não falho passagens de caixa, agora já sinto que a Indiana não é mais uma novidade e passou a ser "da casa".
Nestes quilómetros aprendi algumas coisas, porventura mais que o que podia ter experimentado num qualquer modelo de scooter moderna. Trocar os pneus, ainda novos, por não estar satisfeito com a performance dos que tinha, teria sido impensável na SH, não só pelo custo como pela trabalheira envolvida.
E essa troca de pneus foi mesmo muito importante. A diferença de comportamento, em piso molhado e em curva, por exemplo, é abismal. Mas o atractivo da Indiana não se resume à simplicidade mecânica e abundância de peças baratas. Poder resolver (quase) tudo em casa e a um custo baixo é bom, mas não é o principal atractivo desta LML. Pelo menos não para mim.
Comprar uma scooter desenhada há mais de trinta anos, pequena e lenta, numa era onde toda gente tem imensa pressa e a felicidade parece ser possuir o veículo mais moderno, mais veloz, mais confortável, é no mínimo coisa de um nostálgico. Do coleccionador de Vespas Old School, ao amante do design, quem compra uma LML está a enviar um certo tipo de mensagem. Optar por uma LML quando existem inúmeras outras propostas no mercado, mais potentes e capazes, é talvez um rejeitar do progresso, o de uma certa ideia de progresso. É claro que há razões históricas, em Portugal, para o sucesso das bonitas scooters indianas. Mas para mim... eu quero simplesmente abrandar, viver ao meu ritmo. Não quero passar pela vida a correr, de um sítio para outro. Na Indiana vou sempre pela estrada com paisagem, a uma velocidade que me permite absorver o que se passa a minha volta. Qual é a pressa?
A Indiana é a minha máquina do tempo e o meu sofá de psicólogo. É ao mesmo tempo burra de carga de material fotográfico e top model em passeios à beira mar, viatura utilitária para ir ao supermercado e aos correios, e sprinter audaciosa para chegar a horas ao trabalho.
Quem poderia pedir mais?
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