Rewind: Em Londres, início dos sessentas, Mick Jagger ao ver que Keith Richards traz debaixo do braço uma rodela de vinil da Chess Records, o “The Best of Muddy Waters” aproxima-se deste e mete conversa. Reza a lenda. Em breve teríamos os Rolling Stones. Stop.
Muito tempo antes, em Chicago, os irmãos Leonard e Phil Chess, dois judeus do leste europeu com negócios em bares abriram o Macomba Lounge, uma casa nocturna onde havia espaço para público e músicos pretos que nas décadas de trinta e quarenta do século vinte abandonaram o sul à procura de melhores oportunidades nas cidades industrializadas do norte do país. Detroit e Chicago à cabeça. Espertos para o negócio apercebem-se que existe público, mas também verdadeiros apreciadores da música reconhecem pérolas em bruto que tocam sem nunca gravar, então, o passo seguinte, a indústria de discos.
Rewind: O nome escolhido era “Blues Incorporated” mas Brian Jones sugere, em homenagem ao “bluesman” Muddy Waters, o nome de uma das suas músicas, Rollin´Stone. Rolling Stones. Stop.
Os irmãos juntam-se à Aristocrat Records em 1947 mas em 1950 ficam sozinhos à frente da editora e mudam o nome para Chess. Agora era com eles. Ainda em cinquentas fundam as subsidiárias Checker Records, maioritariamente gospel e a Argo Records para jazz mas à parte os grandes nomes destas foi a Chess que fez história, sendo alcunhada de “Home of the electric blues”, o blues de Chicago.
O blues, electrificado, e influenciado por jazz e por gospel seria conhecido por rhythm & blues e este juntamente com o country seriam as bases do futuro rock’n’roll. Até ao final da década de quarenta o termo para a música de pretos era o pejorativo “race music”, quando Jerry Wexler na revista “Bilboard” o troca por rhythm & blues. A confusão instala-se por vezes na nossa cabeça ao ouvir estes “blues”, mas isto é rock’n’roll pensamos nós? Sim e não, é proto-rock’n’roll. Em ebulição. Como o café na cafeteira, preto, quente e forte. Interessante o contraste com a outra mítica editora, a sulista Sun Records, onde Sam Phillips, outro com talento para o negócio, descobriu um branco, e jovem, para divulgar esta música que se iria chamar rock’n’roll. O nome dele? Elvis Presley. Interessante o contraste e a relação, pois pelas mãos de Sam já tinha passado o rock dos pretos (que ele adorava) através daquela que é considerada uma das primeiras músicas de rock’n’roll, o “Rocket 88” de Jackie Breston/Ike Turner, o qual Sam passou depois à Chess onde seria gravado. E clássicos rock como “Shake, Rattle and Roll”, “Whole Lotta Shakin´goin on” ou a primeira gravação do Elvis, “That´s Alright”, que era um original do Arthur “big boy” Crudup, eram nada mais nada menos que rhythm & blues.
As bandas inglesas dos sessentas foram menos discretas e assumiram essa adoração com versões, desde os Beatles aos grupos mods como os Yardbirds ou Animals.
Rewind: No final da década de cinquenta, Muddy Waters e sua banda electrificada tocam em Londres, onde os futuros Stones estariam na primeira fila e de onde um critico de música abandona o local devido à música alta. Stop.
Em Chicago as pérolas começam a gravar, e falamos de nomes como Willie Dixon (o orquestrador mor da editora), Little Walker, Bo Diddley, Muddy Waters, Chuck Berry, Howlin´Wolf (descoberto por Sam), Etta James, John Lee Hooker e muitos outros. O repertório é basicamente blues, rhythm & blues e...rock’n’roll. E os irmãos pérola, perdão, Chess, tomavam conta de tudo, das contas às cantigas.
Muddy Waters, som e voz potente e arrastado, hipnótico, como os preliminares antes do sexo numa noite quente de verão. A sua banda era a nata de músicos da editora.
Willie Dixon, o seu nome é sinónimo de blues e rhythm & blues, é sinónimo de compositor e baixista de quase todos os nomes da Chess, é sinónimo de versões feitas por muitos outros.
Chuck Berry. Era fã de Muddy e foi este que lhe disse para aparecer na editora para gravar umas coisas. Chuck Berry, se Elvis era a imagem, ele era o som, a guitarra que atravessa gerações. Se o som de Muddy era os preliminares do sexo, o som de Chuck era o sexo puro e duro. Rock’n’Roll significava sexo no calão dos pretos. A primeira gravação foi “Maybellene” em 1955. O primeiro single dos Stones em 1963 foi “Come On”, de Chuck Berry, e no lado B, “I Want to be Loved” de Willie Dixon.
Bo Diddley. Se Muddy era os preliminares e Chuck o sexo, Bo era o orgasmo.
Foi também em 1955 que ele se estreou, não na Chess, mas na subsidiária Checker, com “Bo Diddley” no lado A e “I´m a Man” no lado B. O seu estilo era único, original, selvagem, tribal, eram as pedras a rolar e ninguém a conseguir parar, e era ela também em palco, Lady Bo, mulher guitarrista, amazona dos palcos. A banda Jesus & Mary Chain homenageou-o com a música “Bo Diddley is a Jesus”. Amén.
Rewind: Os Rolling Stones em 1964 andam em tourné pela América e não perdem a oportunidade de visitar e gravar um EP, o “Five by Five”, na Chess. A morada?
2120 South Michigan Avenue, Chicago.
Texto: O Rapaz do chapéu.
leoneldejesus@gmail.com
Muito tempo antes, em Chicago, os irmãos Leonard e Phil Chess, dois judeus do leste europeu com negócios em bares abriram o Macomba Lounge, uma casa nocturna onde havia espaço para público e músicos pretos que nas décadas de trinta e quarenta do século vinte abandonaram o sul à procura de melhores oportunidades nas cidades industrializadas do norte do país. Detroit e Chicago à cabeça. Espertos para o negócio apercebem-se que existe público, mas também verdadeiros apreciadores da música reconhecem pérolas em bruto que tocam sem nunca gravar, então, o passo seguinte, a indústria de discos.
Rewind: O nome escolhido era “Blues Incorporated” mas Brian Jones sugere, em homenagem ao “bluesman” Muddy Waters, o nome de uma das suas músicas, Rollin´Stone. Rolling Stones. Stop.
Os irmãos juntam-se à Aristocrat Records em 1947 mas em 1950 ficam sozinhos à frente da editora e mudam o nome para Chess. Agora era com eles. Ainda em cinquentas fundam as subsidiárias Checker Records, maioritariamente gospel e a Argo Records para jazz mas à parte os grandes nomes destas foi a Chess que fez história, sendo alcunhada de “Home of the electric blues”, o blues de Chicago.
O blues, electrificado, e influenciado por jazz e por gospel seria conhecido por rhythm & blues e este juntamente com o country seriam as bases do futuro rock’n’roll. Até ao final da década de quarenta o termo para a música de pretos era o pejorativo “race music”, quando Jerry Wexler na revista “Bilboard” o troca por rhythm & blues. A confusão instala-se por vezes na nossa cabeça ao ouvir estes “blues”, mas isto é rock’n’roll pensamos nós? Sim e não, é proto-rock’n’roll. Em ebulição. Como o café na cafeteira, preto, quente e forte. Interessante o contraste com a outra mítica editora, a sulista Sun Records, onde Sam Phillips, outro com talento para o negócio, descobriu um branco, e jovem, para divulgar esta música que se iria chamar rock’n’roll. O nome dele? Elvis Presley. Interessante o contraste e a relação, pois pelas mãos de Sam já tinha passado o rock dos pretos (que ele adorava) através daquela que é considerada uma das primeiras músicas de rock’n’roll, o “Rocket 88” de Jackie Breston/Ike Turner, o qual Sam passou depois à Chess onde seria gravado. E clássicos rock como “Shake, Rattle and Roll”, “Whole Lotta Shakin´goin on” ou a primeira gravação do Elvis, “That´s Alright”, que era um original do Arthur “big boy” Crudup, eram nada mais nada menos que rhythm & blues.
As bandas inglesas dos sessentas foram menos discretas e assumiram essa adoração com versões, desde os Beatles aos grupos mods como os Yardbirds ou Animals.
Rewind: No final da década de cinquenta, Muddy Waters e sua banda electrificada tocam em Londres, onde os futuros Stones estariam na primeira fila e de onde um critico de música abandona o local devido à música alta. Stop.
Em Chicago as pérolas começam a gravar, e falamos de nomes como Willie Dixon (o orquestrador mor da editora), Little Walker, Bo Diddley, Muddy Waters, Chuck Berry, Howlin´Wolf (descoberto por Sam), Etta James, John Lee Hooker e muitos outros. O repertório é basicamente blues, rhythm & blues e...rock’n’roll. E os irmãos pérola, perdão, Chess, tomavam conta de tudo, das contas às cantigas.
Muddy Waters, som e voz potente e arrastado, hipnótico, como os preliminares antes do sexo numa noite quente de verão. A sua banda era a nata de músicos da editora.
Willie Dixon, o seu nome é sinónimo de blues e rhythm & blues, é sinónimo de compositor e baixista de quase todos os nomes da Chess, é sinónimo de versões feitas por muitos outros.
Chuck Berry. Era fã de Muddy e foi este que lhe disse para aparecer na editora para gravar umas coisas. Chuck Berry, se Elvis era a imagem, ele era o som, a guitarra que atravessa gerações. Se o som de Muddy era os preliminares do sexo, o som de Chuck era o sexo puro e duro. Rock’n’Roll significava sexo no calão dos pretos. A primeira gravação foi “Maybellene” em 1955. O primeiro single dos Stones em 1963 foi “Come On”, de Chuck Berry, e no lado B, “I Want to be Loved” de Willie Dixon.
Bo Diddley. Se Muddy era os preliminares e Chuck o sexo, Bo era o orgasmo.
Foi também em 1955 que ele se estreou, não na Chess, mas na subsidiária Checker, com “Bo Diddley” no lado A e “I´m a Man” no lado B. O seu estilo era único, original, selvagem, tribal, eram as pedras a rolar e ninguém a conseguir parar, e era ela também em palco, Lady Bo, mulher guitarrista, amazona dos palcos. A banda Jesus & Mary Chain homenageou-o com a música “Bo Diddley is a Jesus”. Amén.
Rewind: Os Rolling Stones em 1964 andam em tourné pela América e não perdem a oportunidade de visitar e gravar um EP, o “Five by Five”, na Chess. A morada?
2120 South Michigan Avenue, Chicago.
Texto: O Rapaz do chapéu.
leoneldejesus@gmail.com
No comments:
Post a Comment