Thursday, 23 November 2006
Vende-se Vespa!
A vida tem destas coisas.
Ao comprarmos a nossa Vespa, existe quase de imediato a situação de amor á primeira vista.
Ou porque vimos o anúncio no jornal ou então soubemos que o amigo do amigo, tem “aquela” Vespa à venda.
Ponderamos o custo da mesma, o estado dela e o nosso orçamento pessoal para os próximos meses.
Avança-se na compra e já está.
Começa aí, então um intenso namoro.
Os primeiros passeios, a descoberta.
Mas também, os primeiros achaques. Ela não pega, exactamente naquela manhã, quando já estávamos atrasados para o emprego ou para as aulas. Uma discussão ali… Abrir a torneira!?. Afinal está na reserva!
A razão está quase sempre do lado dela. Outra conversa acolá, a caminho da praia ou do Bairro Alto. Somos felizes, porra!
E lá vamos nós. Nem precisamos de gastar muito dinheiro com ela?!.
Sozinhos no mundo. Eu e ela. De peito feito, cara ao vento, aventais arejados. Aqui e acolá uma pinguinha de óleo.
Que ela insiste em largar, como que a marcar o seu território. Tal qual como os cães, os melhores amigos do homem. Convivendo no dia-a-dia. De sol a sol ou debaixo de chuva, naqueles dias mais chatos e cinzentos. Vamos às compras. E como ela gosta de andar na Baixa. Como que sente o olhar dos turistas. Confunde-se como só uma Vespa sabe, entre a calçada lisboeta e os prédios devolutos que fazem o cenário very typical uma delícia para os nipónicos e nórdicos que visitam a nossa Lisboa.
Depois um dia, surge uma outra paixão. Angústia.
E temos de vender a nossa querida companheira Vespa. Dói o coração, pensar que vai alguém enrolar aquele punho acelerador já tão ajustado à nossa mão. Dói imaginar, que alguém vai abrir o tampão da gasolina com a mesma doçura.
Cada risco no balon, tem uma história. São marcas da nossa vivência conjunta. Aquele ali… foi quando vínhamos no Cacilheiro de regresso a casa, vindos de uma bela tarde de Verão na Caparica com demais amigos e outras Vespas.
Outro ali no porta-luvas foi a M…..(segundo elas: as outras!) quando insistiu que queria tirar uma foto em cima da Vespa naquela noite em Santos.
Tanta história, tantas marcas de vida. Bons momentos passados.
Não ficam angustiados quando têm de vender a “vossa” Vespa? Ou será que sou eu. Que sou muito apegado às minhas coisas.
Quantos de nós, já baptizamos as nossas companheiras com os nomes mais incríveis?!.
Depois de tantas aventuras e muitos quilómetros sofridos em conjunto. Nós e as máquinas ficamos marcadas para sempre. Ou será impressão minha?
Depois desse estranho momento de comércio. Troca e Venda. Passa para cá os documentos. Também eles, já ajustados à nossa carteira. Ficamos com aquela sensação de vazio. Será que o novo dono vai trata-la da mesma maneira?
(este texto foi dedicado a “Preta” a.k.a Negrita uma Vespa PK 50 XLS de 94, companheira de muitas viagens e situações na minha vida entre 95 e 2004)
foto de Pêpê
(Palmones-Bahia de Algeciras. Setembro '06)
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